5 de setembro de 2012

Exportação brasileira cai menos que a média mundial

A exportação brasileira no primeiro semestre sofreu menos com a desaceleração mundial que a média dos demais países. As importações mundiais caíram 3,5% em junho, na comparação com o mesmo mês do ano passado. A demanda externa efetiva, porém, que reflete as importações dos principais países de destino das vendas brasileiras ao exterior, segundo cálculos da Fundação Centro de Estudo do Comércio Exterior (Funcex), teve queda menor, de 0,4%, enquanto as exportações do país recuaram 0,9%.

No acumulado em 12 meses também há diferença significativa. A importação mundial aumentou 7,1% e a demanda externa efetiva do Brasil, 12,3%, enquanto o valor total da exportação brasileira teve alta de 10,35%. Especialistas acreditam, porém, que essa pequena "vantagem" brasileira vai diminuir até o fim do ano, refletindo, em parte, o que já ocorreu nos meses de julho e agosto, quando o recuo das exportações do país já foi mais expressivo que o de junho.

A disparidade entre as vendas do Brasil e as importações mundiais pode ser explicada pela composição da pauta brasileira de exportação, na qual os básicos são representativos. A demanda pelos produtos básicos demora mais para ser afetada dos que a procura pelos manufaturados. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), a fatia dos básicos na pauta de exportação brasileira é de cerca de 48%.

Para José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a "vantagem" do país é transitória. A exportação brasileira já começou a sentir uma desaceleração maior nos básicos a partir do segundo semestre e isso deverá fazer maior diferença no quarto trimestre com a China, cuja economia em 2012 deve se desacelerar mais do que se previa inicialmente.

O índice oficial de gerentes de compras, um dos principais indicadores chineses para nível de atividade, teve a quarta queda consecutiva do índice oficial de gerentes de compras, para 49,2 pontos, alardeado como o nível mais baixo em nove meses. Resultados abaixo de 50 indicam contração da atividade industrial. O número aumentou os temores de que a economia chinesa demore a retomar o ritmo anterior de crescimento.

Dados divulgados pelo Mdic indicam queda acentuada na exportação de básicos em agosto, na comparação com o mesmo mês do ano passado, com redução de 15,5% na média diária. No acumulado de janeiro a agosto, a queda é de 4,9%, também pelo critério de média diária. A exportação brasileira para a China teve, em agosto, queda de 12,4% na média diária. A redução foi menor que a média, de 14,4% em agosto, considerando todos os países de destino.

Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores, diz que a grande dependência em relação à China acabou favorecendo a exportação brasileira no primeiro semestre. "A economia chinesa está desacelerando, mas ainda assim há crescimento", diz ele. A China é individualmente o maior parceiro comercial do Brasil, com participação atual de 17% dos embarques totais do país.

Castro lembra que durante o primeiro semestre a exportação brasileira de básicos foi muito beneficiada pela antecipação dos embarques da soja, principalmente para a China, a preços relativamente bons. Esse efeito, porém, não se repetirá no segundo semestre. Além disso, ele acredita que os embarques de minério de ferro para o país asiático deverão sofrer redução. "Por enquanto, houve queda de valores, mas a desaceleração deve resultar também em redução de volumes."

Para Barral, a vantagem do primeiro semestre também aconteceu porque os preços das commodities exportadas pelo Brasil não caíram tão dramaticamente como se esperava. De qualquer forma, diz ele, não é algo que vai perdurar no médio e longo prazo.

"A questão é saber se as exportações brasileiras serão capazes de acompanhar o ritmo da demanda quando a China e a economia mundial se recuperarem", diz Barral. Para isso, seria necessário diversificar a pauta de exportação, com uma participação maior de manufaturados. "Para isso, porém, ainda precisamos melhorar a competitividade."


Fonte: Jornal Valo Econômico

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