9 de outubro de 2012

Preço de exportações recua e importações ficam mais caras

Depois de subir 25% em 2010 e 2011, os termos de troca (a relação entre preços de exportação e de importação) acumulam queda de 4,2% de janeiro a agosto em relação ao mesmo período de 2011, ajudando a explicar a piora do saldo comercial neste ano. Nos primeiros oito meses de 2012, as cotações de exportação caíram 2,9%, puxadas pelo recuo de 6,5% dos produtos básicos, com destaque para o tombo do minério de ferro. No mesmo intervalo, os preços de importação subiram 1,3%, especialmente devido à alta de 5,2% dos preços de combustíveis. Os números são da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).

Para o quarto trimestre deste ano e para o ano que vem, as perspectivas para os termos de troca não são das mais animadoras, dada a aposta dominante num cenário de crescimento global fraco - a China deve crescer também em 2013 a um ritmo não tão exuberante, a Europa tende a seguir estagnada e a recuperação nos EUA é capenga. Com isso, a terceira rodada de afrouxamento quantitativo nos EUA (a ação de política monetária ultraexpansionista, marcada pela compra de títulos hipotecários, conhecida como QE3) deverá ter um impacto limitado sobre os preços de commodities, a despeito de aumentar o dinheiro em circulação nos mercados globais.

Neste ano, a balança comercial caminha para fechar o ano com um superávit na casa de US$ 18 bilhões, quase 40% inferior ao saldo de US$ 29,8 bilhões do ano passado. Parte desse tombo se explica pela piora dos termos de troca, diz o especialista em comércio exterior Fernando Ribeiro, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Em 2010 e 2011, a balança comercial brasileira registrou superávits expressivos, de US$ 20,1 bilhões e US$ 29,8 bilhões, mesmo com o volume de importações crescendo quase 50% no período. A questão é que, estimulados pela disparada das commodities, os preços de exportação aumentaram 48,5% nesses dois anos, um avanço bem mais forte que os 18,7% dos preços de importações, o que resultou no já mencionado ganho de 25% dos termos de troca em 2010 e 2011.

O cenário atual, contudo, é bem diferente, ressalta Ribeiro. As projeções de expansão da economia global para o ano que vem, por exemplo, têm sido frequentemente revistas para baixo. "2013 deverá ser mais um ano de baixo crescimento da economia mundial", afirma ele, observando que nem mesmo a China, grande consumidora de commodities, deverá repetir o desempenho exuberante registrado por muitos anos. Ontem, por exemplo, o Banco Mundial reduziu de 8,2% para 7,7% a estimativa para o avanço da economia chinesa no ano que vem. Um crescimento menos expressivo da China limita as perspectivas para os preços de produtos básicos, que compõem grande parte da pauta de exportações do Brasil.

A Europa segue enredada em sua crise. Ainda que não ocorra uma ruptura da zona do euro, a expectativa é de crescimento baixo por muito tempo. Isso prejudica bastante a China, que tem nos países europeus o seu principal mercado de exportação. Nos EUA, há o temor do chamado abismo fiscal, o risco de uma combinação simultânea de fim da redução de impostos e corte de gastos no começo de 2013 - se isso se concretizar, haverá uma contração fiscal violenta, afetando o crescimento.

Com esse cenário complicado, a expectativa para os preços de commodities não é das melhores, acredita também o economista Silvio de Campos Neto, da Tendências Consultoria. "A trajetória de médio prazo esperada para os termos de troca é de acomodação ou de um pequeno ajuste para baixo", diz Campos Neto. Ribeiro tem opinião parecida - acha que nos meses que restam de 2012 e ao longo de 2013 o mais provável é que os termos de troca sigam estáveis ou mostrem um pequeno recuo.

Para ele, os preços do minério de ferro não deverão ter um comportamento tão ruim quanto neste ano, mas a tendência das cotações do produto com maior peso na pauta de exportação continua a ser pouco favorável, dada o panorama para a economia chinesa. De janeiro a agosto, as cotações de exportação do setor de extração de minerais metálicos (onde está o minério de ferro) recuaram quase 20% em relação ao mesmo período de 2011. Já os preços das commodities agrícolas, como a soja, podem cair, depois da alta registrada nos últimos meses, diz Ribeiro.

Para ele, o saldo comercial neste ano deve ficar na casa de US$ 18 bilhões, encolhendo mais um pouco em 2013, embora ainda não tenha uma estimativa fechada para o ano que vem. A recuperação da economia brasileira deve aumentar a demanda por importações, que tendem a avançar a um ritmo superior ao das exportações.

"Mas não espero um recuo dramático do superávit", afirma Ribeiro, notando que os termos de troca devem ter pouca influência sobre o resultado da balança comercial no ano que vem, por esperar que eles fiquem estáveis ou tenham pequena queda. Campos Neto vai na mesma linha, projetando um superávit de US$ 15 bilhões em 2013.

 
Fonte: Jornal Valor Econômico

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