2 de agosto de 2013

Sem intervenção do BC, dólar supera os R$ 2,30

A manutenção da política monetária acomodatícia dos bancos centrais europeus e o anúncio de dados positivos sobre a economia americana levaram o dólar a ganhar força frente às principais moedas e impulsionaram a alta do rendimento dos títulos do Tesouro americano. O mercado doméstico acompanhou o movimento global e a moeda americana fechou acima de R$ 2,30, sustentando o maior patamar em quatro anos, enquanto as taxas dos contratos futuros de juros fecharam no nível mais alto desde o início de julho.
Sem a intervenção do Banco Central no mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 0,88%, a R$ 2,3020, maior patamar desde 31 de março de 2009.

O movimento do câmbio no mercado doméstico acompanhou a valorização da moeda americana lá fora, sustentada pela divulgação de dados positivos do setor industrial e do mercado de trabalho nos EUA sinalizando uma recuperação da economia americana. O Dollar Index, que mede o desempenho da moeda americana em relação a uma cesta de moedas, subiu 1,12%.
Diante do movimento de valorização global do dólar, o Banco Central não atuou no mercado, depois de ter realizado três leilões de swap cambial (que equivalem a uma venda de dólares no mercado futuro) na quarta feira, injetando US$ 2,25 bilhões no mercado. "A tendência de fortalecimento do dólar é global e o BC não tem capacidade de reverter esse movimento e está muito ciente desse fato. Por isso, tem agido apenas para garantir a liquidez no mercado", afirma Marcelo Salomon, chefe de economia e estratégia para a América Latina do Barclays Capital.
Para Salomon, o BC não deve gastar reservas para tentar conter a alta do dólar e deve esperar uma acomodação desse movimento de valorização para agir de forma mais agressiva.
A leitura dos analistas é que a autoridade monetária só tem atuado para corrigir distorções, quando o real se descola de seus pares lá fora ou há uma volatilidade muito alta do câmbio.
A pressão de valorização do dólar tem se concentrado no mercado futuro e está impulsionada pelos investidores estrangeiros e institucionais, que seguem comprando a moeda americana. Os estrangeiros ampliaram a posição líquida comprada em dólar (aposta na alta da divisa) no mercado futuro de US$ 9,771 bilhões em 30 de julho para US$ 11,835 bilhões em 31 de julho, maior posição desde 9 de março de 2009.
Segundo o executivo da tesouraria de um banco estrangeiro, parte desse movimento reflete a busca por hedge por parte dos estrangeiros para os investimentos em renda fixa local, que aumentou após a retirada da alíquota de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Para a equipe de estratégia de câmbio para mercados emergentes do Morgan Stanley, o real está entre as moedas "mais vulneráveis" no médio prazo, considerando o grupo das principais divisas emergentes, pressionado pelos temores sobre a desaceleração econômica da China, pela "fraca" posição externa do Brasil (pelo balanço de pagamentos) e pela inflação elevada. Os analistas do Morgan preveem que esses fatores devem ditar o caminho para um real mais fraco, com a cotação podendo alcançar a taxa de R$ 2,40 por dólar no fim deste trimestre.
O BC tem sinalizado preocupação com o impacto da valorização do dólar para a inflação. No ano, a moeda americana já acumula alta de 12,68%.
Para Salomon, o impacto para a inflação depende do nível de atividade econômica. Por enquanto, a inflação deve mostrar uma desaceleração em julho podendo ficar negativa.
A preocupação com o repasse da desvalorização cambial sobre os preços também se reflete no comportamento do mercado de juros futuros da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros). A taxa do contrato futuro de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2014 - que reflete as expectativas para a taxa básica até o fim do ano - atingiu 8,91% ontem (ante 8,85% registrado anteontem).
O contrato não rompia o "teto" de 8,90% desde 1º de julho, quando fechou a 8,95%. Apenas esta semana, a taxa do DI para janeiro de 2014 subiu mais de 0,10 ponto percentual. Com a escalada recente, o contrato já demonstra que os investidores voltam a apostar em uma alta da taxa Selic, hoje em 8,50%, até pelo menos 9,50% este ano.

Fonte: Jornal Valor Econômico

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