9 de agosto de 2013

Escassez de dólares na Venezuela prejudica exportações do Brasil

As dificuldades econômicas enfrentadas pela Venezuela estão afetando o comércio com o Brasil. O país petroleiro, que importa 70% dos alimentos que consome, enfrenta neste ano uma grave escassez de divisas, o que se reflete em um freio nas importações e, internamente, em falta de produtos básicos e em uma alta generalizada de preços.
As exportações brasileiras para a Venezuela entre janeiro e julho somaram US$ 2,324 bilhões, 15% a menos do que os US$ 2,758 bilhões registrados no mesmo período do ano passado, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Em 2012, a Venezuela foi responsável pelo terceiro maior superávit comercial do Brasil com seus parceiros no mundo, de US$ 4 bilhões e só atrás da China e da Holanda.
Os números deste ano incluem a venda de seis aviões da Embraer para a estatal Conviasa, um negócio de US$ 271 milhões. Sem essa venda, contando apenas com setores mais tradicionais, como alimentos e medicamentos, a queda teria sido ainda mais drástica - de 25%, para US$ 2,053 bilhões.
Mas analistas afirmam, que esse fenômeno não se restringe ao comércio com o Brasil. Pelo contrário, eles veem nos dados do governo brasileiro mais um sinal da brusca queda esperada para as importações totais. O nível recorde de US$ 59 bilhões de 2012 deve cair para menos de US$ 50 bilhões neste ano.
No ano passado, o ex-presidente Hugo Chávez fez um grande esforço para evitar uma alta da inflação e a escassez de alimentos nos meses que antecederam a eleição presidencial de 7 de outubro. Assim, abriu os cofres para obras públicas, programas sociais e importações de produtos básicos.
As importações dispararam em 2012, enquanto a tradicional escassez de produtos foi atenuada. E a inflação fechou 2012 em 20,1%, patamar considerado baixo para os padrões venezuelanos.
A fatura, porém, chegou neste ano. Em meio à agonia de Chávez, que viria a morrer em 5 de março vítima de um câncer, o governo foi obrigado a promover um mini ajuste fiscal, com a desvalorização do bolívar de 4,30 para 6,30 por dólar - o câmbio é controlado no país -, o que por si só já encareceu os produtos importados.
A escassez de divisas fez disparar o dólar paralelo. Em outubro, a moeda era vendida por cerca de 12 bolívares nas ruas de Caracas. Ontem, segundo sites venezuelanos, passava de 34 bolívares.
Neste ano, os importadores começaram a se queixar do atraso na entrega de divisas por parte do governo para pagar seus fornecedores no exterior, inclusive os brasileiros. O problema foi atenuado com leilões governamentais de dólar, mas ainda em nível insuficiente para garantir um pleno abastecimento. "A falta de dólares golpeou sobretudo os importadores privados", diz o economista venezuelano Jesús Casique. "O governo consegue importar produtos que considera prioritários, mas a escassez é grande e a inflação disparou."
O índice de escassez medido pelo Banco Central atingiu em maio o nível recorde de 21,3%. Cedeu um pouco nos últimos meses, mas ainda está em níveis elevados, em 19,3%. Ou seja, um em cada cinco produtos está em falta nas prateleiras dos supermercados.
Nos sete primeiros meses do ano, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) já atingiu 29%, contra 8,6% no mesmo período de 2012. Analistas são unânimes em afirmar que o IPC fechará o ano acima de 40%. Alguns já falam em 50%.
Para o economista Luiz Pinto, pesquisador visitante da Columbia University, em Nova York, a Venezuela vive uma situação de deterioração econômica que tende a se aprofundar nos próximos anos. Isso decorre, em grande parte, da dependência dos venezuelanos em relação às exportações de petróleo, responsáveis por 96% dos dólares que entram no país. "Há desequilíbrios muito grandes que só têm como ser mantidos com um petróleo nos patamares atuais, a US$ 108. Mas a tendência é que o preço não se mantenha nesse nível", diz.




Fonte: Jornal Valor Econômico

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