26 de dezembro de 2012

Antecipação de exportação não engata após alteração de prazo

A decisão do Banco Central de ampliar de um para cinco anos o prazo das linhas de pagamento antecipado de exportações (conhecido no mercado por "PA"), publicada no dia 4, teve pouco efeito nas novas contratações pela modalidade. A interpretação de participantes do setor é que muitas empresas já tinham fechado as suas contas para o ano e que algum impacto deva ser sentido apenas a partir de janeiro.

De acordo com os dados mais recentes do Banco Central (BC), os valores concedidos via PA, até 14 de dezembro, mostram que a média diária de contratações caiu nos dez dias posteriores ao anúncio, para US$ 122,2 milhões. A média de contratação diária em novembro, antes da ampliação de prazo sair, era de US$ 137 milhões. Na semana imediatamente anterior à medida, a média de contratações estava em US$ 134,4 milhões.

Tradicionalmente, dezembro é um mês mais fraco para novas contratações de PA, pois é uma época em que as empresas fecham seus balancetes anuais e evitam se endividar, conta um executivo de banco. A modalidade é vantajosa porque não paga Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) ou Imposto de Renda.

Nas agências do Banco do Brasil, responsável por pouco mais de um terço das concessões feitas via PA no país, houve um aumento da procura por tais linhas nos dias posteriores à decisão do BC, mas poucas operações foram concretizadas, diz João Carlos Pinto de Mello, gerente-executivo da diretoria de negócios internacionais.

"Parecia haver uma demanda reprimida, tudo indicava que faríamos novas contratações logo nos primeiros dias após o anúncio", afirma Mello, do BB. "Mas isso não ocorreu na velocidade que imaginávamos." A procura maior por tais linhas deve ser retomada em janeiro, mês em que empresários têm uma ideia melhor de como será o ano para as exportações.

Uma fonte de um outro banco disse que ainda não foi possível identificar um aumento significativo nas novas contratações das linhas de PA. Ele espera que a medida do governo tenha algum reflexo nas concessões a partir de janeiro.

"Grande parte das linhas de exportação já tinha sido fechada quando veio a notícia do governo. Devemos reconhecer um movimento maior a partir de janeiro, quando as empresas estarão se planejando para o ano", disse o gerente de câmbio de um banco médio que preferiu não se identificar.

Entre os exportadores que cotaram as linhas de PA no BB após a mudança do governo, muitos procuraram saber se as novas condições estavam competitivas em relação às linhas de capital de giro oferecidas em reais, que ficaram mais baratas após a rodada de corte de taxa de juros dos últimos meses, disse Mello. "Antes, PA era uma modalidade considerada imbatível. Agora, compete mais de perto com várias outras de capital de giro que ficaram mais baratas."

Os custos para a concessão de uma linha de PA dependem muito do perfil de risco do tomador, do prazo e da forma do pagamento. Além disso, deve ser levado em conta no preço se a operação requer uma proteção cambial ("hedge") ou não.

Quando o BC restringiu o prazo das linhas de PA para um ano, em março, argumentou que era preciso "disciplinar " o mercado para evitar operações que chegavam a dez anos e tinham objetivo especulativo (o chamado "carry trade", em que se toma dinheiro barato no exterior para aplicar em juros no Brasil). A medida de reduzir o prazo da modalidade acabou por atingir muitos exportadores que se valiam de tais linhas principalmente como capital de giro.

Como o prazo para PAs ficou restrito a um ano durante a maior parte de 2012, o valor concedido por essa modalidade deve ficar bem abaixo do visto em anos anteriores. Até 14 de dezembro, as concessões somavam US$ 38,7 bilhões. Ainda que esse valor cresça quando estiverem fechadas as estatísticas do ano, a tendência é terminar bem mais baixo do que o total de 2011, de US$ 50,5 bilhões, ou de 2010, de US$ 41,169 bilhões.


Fonte: Jornal Valor Econômico

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