9 de novembro de 2011

Faturamento sobe, mas emprego e produção do setor caem

Por Tainara Machado e Thiago Resende | De São Paulo e Brasília Valor Econômico
 
Os indicadores da indústria voltaram a registrar descompasso em setembro. Enquanto a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou crescimento de 1% no faturamento real do mês na comparação com agosto, a produção caiu 2% na mesma comparação, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda na passagem de agosto para setembro, a CNI registrou menor uso da capacidade instalada. Entre as explicações, os economistas listam redução dos estoques, aumento real dos preços e até mesmo ganho de competitividade.

Na passagem mensal, a Utilização da Capacidade Instalada caiu de 82,2% para 81,6% na série com ajuste sazonal, de acordo com a CNI. O resultado foi condizente com o recuo de 2% da produção industrial mostrado pelo IBGE em setembro. No entanto, o faturamento real da indústria, também dessazonalizado, avançou 1% no mesmo período. Para o gerente de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, a tendência divergente mostrada por esse conjunto "sugere que há um movimento de redução de estoques".
Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, afirma que essa explicação faz sentido, pois a indústria teria se desfeito de estoques acumulados, enquanto a produção continuou estagnada. Thiago Carlos, economista da Link Investimentos, também avalia ser possível melhorar o faturamento sem contrapartida na atividade. "Mas, pelo que observamos, a indústria continua bem estocada, e o processo de ajuste ainda não deve ter acabado", disse.

Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, essa hipótese é válida, "mas não dá para fazer leitura precisa, mais informações são necessárias para ajudar a interpretar esse dado", disse. Gonçalves aponta também como hipótese para o avanço do faturamento um aumento real dos preços.
Ganhos em termos de custos e competitividade, com aumento das importações ao longo da cadeia produtiva, podem ser parte da explicação, na avaliação de Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg.

Para ela, o descolamento não foi um evento pontual, mas é uma tendência que aparece ao longo de 2011, á que setembro foi o quarto mês seguido de avanço do faturamento, enquanto o uso da capacidade patina.
Mais da metade dos setores da indústria de transformação apresentaram queda em setembro na utilização da capacidade instalada e nas horas trabalhadas na produção, frente ao mesmo mês do ano passado, segundo a pesquisa da CNI. O dado de emprego avançou 1,1% no ano, mas em setembro sobre agosto, com ajuste sazonal, foi registrada queda de 0,3%, a maior retração mensal desde abril de 2009. "O emprego já sente o menor ritmo de atividade", conclui Castelo Branco, que acredita no mercado de trabalho bem mais fraco no setor até o fim do ano.

O economista ressaltou ainda que os resultados dos indicadores industriais são preocupantes, pois o período entre agosto e novembro é considerado forte para o setor. Entre os 19 setores pesquisados, nove tiveram recuo em pelo menos dois dos indicadores citados. Além disso, o índice de utilização da capacidade instalada registrado em setembro (81,6%) é o menor desde fevereiro de 2010.

Para a CNI, a crise internacional e o aperto monetário no primeiro semestre afetaram os resultados da indústria e provocaram a desaceleração do setor. "As medidas macroprudenciais de controle do crédito e aumento da taxa de juros, que aumentou o custo do crédito, terminaram impactando a demanda doméstica", afirma Castelo Branco.

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