28 de agosto de 2012

Executivos culpam câmbio ainda valorizado e carga tributária

Os empresários afetados pela perda de espaço nos mercados da América Latina apontam a desvalorização do real e as medidas recentes de política industrial como necessárias, mas ainda insuficientes para recuperar o terreno perdido. "Um barco que leva válvulas de petróleo à Venezuela, de São Paulo a Caracas, com bandeira brasileira, tem um custo 10% a 15% maior que um barco da China para lá", exemplifica o presidente do Sindicato Nacional da Indústrias de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Paulo Butori. "Perdemos para a China, para a Coreia, para a Índia" diz.

Para recuperar a competitividade perdida, a indústria necessitaria de uma cotação de pelo menos R$ 2,60 por dólar, calcula Butori. O câmbio é ainda visto como vilão entre os empresários, que apontam outros obstáculos não enfrentados pelos concorrentes, como a carga tributária e custo da energia. "Ao montar uma nova usina de laminados planos, a tonelada adicional de aço sairia por US$ 1,8 mil aqui, US$ 1 mil na Índia e US$ 550 na China", diz o vice-presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes.

O executivo do IBS acredita que as medidas de desoneração de impostos e facilitação de investimentos anunciadas nos últimos meses pelo governo vão pelo caminho certo. "O problema é o timing", ressalva. Os setores mais afetados pela concorrência estrangeira são obrigados a enfrentar competidores beneficiados por instrumentos bem mais poderosos, compara Mello Lopes.

"Estamos aqui pedindo para renovar o Reintegra, que nos devolve 3% do faturamento das exportações, e a China, que tem um rebate de 7%, discute aumentar para 17%", diz. "Com o excedente na produção de aço mundial de 526 milhões de toneladas, as empresas deixam de lado práticas tradicionais e partem para a carnificina", queixa-se.

O Reintegra, criado com o Plano Brasil Maior, devolve aos exportadores o equivalente a 3% do valor exportado, como compensação pelos impostos indiretos cobrados durante a cadeia de produção. Para alguns setores, foi um alívio, que, no entanto, tem data para acabar: dezembro deste ano.

"Vínhamos perdendo algum mercado para a China e Bielorússia. Com o câmbio que foi de R$ 1,60 a R$ 2,10, e a desoneração de impostos no setor, a situação melhorou", diz um dos poucos otimistas entre produtores de manufaturas, José Antônio Martins, da Marcopolo, presidente da Associação Nacional de Carrocerias de Ônibus (Fabus).

Martins calcula que, em 2012, serão exportadas 20% a mais em carrocerias de ônibus, com um aumento de 103% no primeiro semestre em relação ao segundo, mas diz que, em países como o Peru e o Chile, o setor segue perdendo mercado para a China.


Fonte: Jornal Valor Econômico

Nenhum comentário:

Postar um comentário