21 de junho de 2013

Dólar e juros sobem com fuga de capital

A volatilidade deu o tom nos mercados de câmbio e juros futuros novamente no dia 20/06/2013, levando o Banco Central (BC) e o Tesouro Nacional a atuarem para conter a instabilidade e prover liquidez aos investidores. A movimentação nos mercados internacionais foi marcada ainda pela reação ao discurso do presidente do Fed (banco central dos EUA), Ben Bernanke, no dia 19/06/2013. A mensagem de que a economia americana está em recuperação, abrindo espaço para o início de redução dos estímulos monetários ainda neste ano, provocou uma fuga de capitais de mercados emergentes. Como reflexo disso, houve novas altas do dólar e dos juros futuros.
O dólar fechou com apreciação de 1,71%, cotado a R$ 2,258, maior patamar desde 1º de abril de 2009. A alta apenas não foi maior porque o Banco Central (BC) interveio e realizou dois leilões para tentar conter a disparada da moeda americana. A autoridade monetária vendeu US$ 2,986 bilhões por meio de contratos de swap cambial (que equivalem a uma venda de dólares no mercado futuro).
Além disso, o BC ofertou até US$ 3 bilhões por meio de venda de dólares com o compromisso de recompra para os prazos de 2 de setembro e 1º de outubro. Na primeira operação, com recompra em setembro, o BC vendeu dólares a uma taxa de corte de R$ 2,2905. Já na segunda operação, com recompra em outubro, a taxa de corte foi de R$ 2,3034. Em dezembro do ano passado, o BC vendeu US$ 5,466 bilhões por meio deste tipo de operação. O leilão de venda de dólar com o compromisso de recompra funciona como um empréstimo, em que o BC oferta a moeda com valor definido da recompra, sem impacto para as reservas internacionais.
Para o diretor de câmbio do Banco Rendimento, Carlos Eduardo de Andrade, o BC decidiu retomar os leilões de venda de dólar com compromisso de recompra porque notou uma disfuncionalidade entre as taxas de câmbio praticadas nos mercados de dólar à vista e futuro, fruto da demanda muito maior por moeda no à vista. "O que estava acontecendo é que, mesmo com todos os swaps já ofertados, quem precisava de moeda à vista não tinha a demanda suprida. Os bancos estavam segurando os dólares."
Para João Medeiros, diretor da Pioneer Corretora, apesar de haver um aumento da procura por "hedge" (proteção) por parte das empresas, não há falta expressiva de dólares no mercado à vista. O fluxo cambial em junho, até o dia 14, estava negativo em US$ 69 milhões. Medeiros lembra, no entanto, que os bancos encerraram maio com posição comprada em US$ 5,408 bilhões no mercado à vista.
O movimento de fortalecimento da moeda americana é global e provoca depreciação de todas as divisas emergentes. Ontem, até que o real não foi tão mal. A depreciação da moeda brasileira foi menor que a de muitos de seus pares na América Latina. Para Ítalo Lombardi, economista para a América Latina do banco Standard Chartered, o movimento provavelmente é uma correção dos em relação ao fechamento de quarta-feira.
A alta do dólar joga gasolina na fogueira das expectativas inflacionárias. Isso, por si só, já seria suficiente para impulsionar as taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) na BM&F. A arrancada de ontem, contudo, tem como pano de fundo a mudança estrutural das taxas de juros ao redor do mundo. Esse movimento é desencadeado pela elevação do rendimento dos títulos públicos americano (Treasuries), que servem de parâmetro para negócios de renda fixa. Toda a relação entre risco e retorno dos ativos globais está em transformação. Títulos públicos de países emergentes, em tese mais arriscados, têm que pagar prêmios mais elevados.
Nesse movimento, os títulos públicos brasileiros perdem valor. Gestores buscam mitigar essas perdas com apostas pós-fixadas na BM&F, o que impulsiona as taxas dos DIs. E cada rodada de alta leva a outra, em uma espiral de zeragem de posições prefixadas, sobretudo nos contratos mais longos. O contrato DI para janeiro de 2017 fechou a 11,63% (ante 11,50%). Já o DI para janeiro de 2021 terminou a 11,97% (ante 11,63%).
As altas não foram maiores porque o Tesouro realizou leilões extraordinárias de recompra de papéis prefixados e atrelados à inflação. A demanda não foi forte. Da oferta de 4 milhões de papéis prefixados, o Tesouro comprou pouco mais de 1 milhão. Dos 2 milhões de papéis atrelados à inflação, resgatou 239 mil. A demanda modesta sinaliza que não há problema de liquidez generalizada. A atuação contínua do Tesouro, que também fará leilões extraordinários hoje, é benéfica, segundo especialistas, já que ajuda a acalmar o mercado, ao fornecer parâmetros de preços aos títulos públicos.
Por ora, é impossível saber em que nível os juros futuros vão se acomodar. Também não é possível tomar as taxas como parâmetro seguro do que se espera para o ciclo de alta da Selic em curso no Brasil. Dada a disparada do dólar, porém, a perspectiva é de que o Banco Central (BC) tenha que agir de forma mais enérgica para evitar contaminação das expectativas inflacionárias, o que significa apertar mais o torniquete monetário.

Fonte: Jornal Valor Econômico

Preço de exportação cai e afeta saldo comercial

O índice de preço das exportações brasileiras caiu 2,1% no acumulado até maio deste ano, na comparação com igual período do ano passado, em razão de cotações menores dos produtos semimanufaturados e manufaturados. Como essa queda foi mais intensa que o recuo de 1,8% nos preços médios de importação no período, a evolução dos termos de troca voltou a ser negativa neste ano.
Após queda de 5,1% nos primeiros cinco meses de 2012, a relação entre preços de exportação e de importação foi 0,3% menor entre janeiro e maio de 2013, na comparação com igual período do ano passado. Os números são da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).

Para Fernando Ribeiro, coordenador do grupo de estudo de conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ao contrário do que ocorreu na década passada, os termos de troca deixaram de inflar o saldo comercial do país. Hoje, a contribuição é praticamente neutra.
Para explicar o déficit de US$ 5,4 bilhões da balança comercial até maio, a evolução do volume de comércio é mais importante, afirma. No acumulado do ano, a relação entre o volume das exportações e importações brasileiras caiu 11% em relação aos primeiros cinco meses de 2012. Parte desse recuo, diz, decorre do registro atrasado de importações de combustível pela Petrobras e por paradas programadas para manutenção de plataformas, que prejudicaram as vendas externas. Até maio, o volume de exportações de combustível acumula queda de 39%, enquanto o quantum de importações subiu 23% em igual período.
Para Ribeiro, apesar dos fatores pontuais que influenciaram o resultado nos primeiros cinco meses do ano, a tendência é de que os saldos comerciais sejam cada vez menores. "Já estávamos vendo que o volume de importações estava aumentando, mas os termos de troca compensavam esse efeito. Agora, as cotações de exportação deixam de contribuir positivamente".
Os termos de troca só não pioraram mais nos cinco primeiros meses de 2013 por causa da alta de 1,8% das cotações de produtos básicos entre janeiro e maio deste ano, sempre na comparação com igual período do ano passado. Nos últimos dois meses, no entanto, as cotações pioraram nessa classe de produtos. Apenas em maio, os preços de produtos básicos caíram 2,6% em relação ao ano passado. Para Rodrigo Branco, economista da Funcex, a alta do minério de ferro no mercado externo ajudou a segurar as cotações de commodities no primeiro trimestre, mas as perspectivas são menos animadoras, já que a demanda na Europa e na China, mercados importantes para o produto, segue fraca.
Em relação às commodities agrícolas, Branco avalia que as projeções são de boa safra nos Estados Unidos, o que tende a jogar preços de grãos para baixo. Confirmadas as expectativas, ainda há cerca de 40% da produção de soja brasileira a ser escoada, que tende a ser exportada em condições de preço menos favoráveis. "A nossa pauta é muito centrada em commodities, e com baixa demanda pelos nossos parceiros globais, não há espaço para ganhos de preço".
A desvalorização recente do real pode acentuar a queda dos preços de exportação de manufaturados, que é de 3,4% no acumulado até maio, caso a indústria passe a renegociar preços para aproveitar o câmbio mais favorável para exportações. Branco, no entanto, acha que esse movimento só seria relevante se a depreciação cambial fosse mais acentuada.
Para Ribeiro, do Ipea, a perda de valor do real em relação ao dólar pode contribuir para algum ajuste na balança comercial, mas será pouco relevante. "O câmbio impacta mais as importações porque as tornam mais caras. Mas no caso das exportações, a demanda global é determinante". O prognóstico não é favorável. A economia chinesa, importante compradora de produtos brasileiros, está perdendo força, assim como mercados importantes para o Brasil na América Latina, como Argentina e Venezuela, diz.
A economia americana, que dá sinais mais consistente de recuperação, perdeu importância como parceiro comercial do Brasil. "Se o crescimento global for de fato concentrado nos Estados Unidos, o efeito imediato aqui tende a ser menor", comenta. Os impactos se dariam mais de forma indireta, por meio da recuperação de outros mercados.
Felipe Tâmega, economista-chefe da Modal Asset, avalia que os anos de bonança para o país acabaram e terão implicações sobre o consumo, já que termos de troca menos robustos implicam dizer que, com o mesmo volume de exportações, o país consegue comprar menos importados. Vamos ver anos de desaceleração da China, e isso vai ter impacto relevante nos preços de commodities".
Ao mesmo tempo, os ganhos recentes de produtividade nos EUA e a revolução energética em curso, com a exploração de gás de xisto, fortalecem a indústria americana. "Isso significa que vamos ter mais competidores no mercado de manufaturas, um cenário bastante ruim para a indústria brasileira".

Fonte: Jornal Valor Econômico

18 de junho de 2013

FIESP propõe ações para melhorar integração econômica do Brasil

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), por meio do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex), lançou a chamada "Agenda de Integração Externa".

O documento propõe ações que devem ser tomadas para que o Brasil alcance uma maior inserção econômica e comercial no plano internacional, sejam no âmbito da integração extrarregional, parcerias econômicas ou negociações multilaterais.

A Fiesp defende que a integração com parceiros da Europa, América do Norte e com o Japão - referências em conhecimento científico e inovação - é fundamental para elevar o patamar de competitividade brasileiro. Ao mesmo tempo, entende que é necessário fortalecer as relações com o Mercosul e a integração física com os países sul-americanos.

Para que o país avance qualitativamente em sua política internacional, a "Agenda de Integração Externa" sugere acelerar tratativas para a conclusão de acordos de livre comércio, facilitar a mobilidade de mão de obra entre algumas nações e desenvolver missões comerciais focadas na atração de empresas de alta tecnologia.

Para o diretor-adjunto do Derex, Thomas Zanotto, o importante é ter acordos com países e regiões que integrem as empresas brasileiras às cadeias globais e que sejam fonte de investimentos e parcerias tecnológicas.

A Agenda de Integração Externa traz ainda propostas de cooperação com a África; de exportação para os BRICS [grupo de cooperação formado por Brasil, Rússia, Índia e China) e à África do Sul] e outros mercados relevantes; e de acordos para evitar a dupla tributação internacional.


Fonte: Agência Indusnet Fiesp

3 de junho de 2013

Redução de custos em Santos ainda é "esperança"

Os usuários do porto de Santos avaliam que a maior oferta de terminais não significará necessariamente redução de custos para o comércio exterior. A MP dos Portos flexibilizou a legislação para ampliar o número de terminais e portos, mas não lidou com soluções para eliminar as barreiras no caminho da carga até o embarque no navio. O governo lançou um programa de concessões de rodovias e portos, mas seus efeitos só deverão ser sentidos a médio e longo prazos. Hoje, do custo logístico tangível para o exportador que usa o porto de Santos, 65% são despendidos da porta da indústria localizada no Estado de São Paulo até o costado, cabendo aos 35% restantes o frete oceânico e a entrega na casa do cliente.
Em outras palavras, os serviços envolvidos desde a retirada de um contêiner em Campinas (SP) até o navio -- passando pelo ônus dos congestionamentos na chegada a Santos - são mais caros do que o frete marítimo para este contêiner cruzar o oceano e chegar à China. Na mão inversa, na importação, os usuários reclamam dos já históricos altos tempos de liberação da mercadoria. Em Santos, entre a presença de carga - o anúncio feito pelo terminal de que a carga prevista chegou - e a saída do contêiner propriamente do terminal são gastos hoje de 15 a 17 dias. Nos terminais dos portos mais eficientes do mundo, como Cingapura e Hong Kong, a média é de horas. Os números são do Comitê de Usuários dos Portos e Aeroportos do Estado de São Paulo (Comus), da Associação Comercial de São Paulo.
Por isso, quem depende do porto para tocar seu negócio defende a abertura da planilha dos custos envolvidos na cadeia de comércio exterior entre a origem da carga até a beira do cais. "O usuário espera que haja regulamentação para haver mais transparência nesse processo. Não é intervenção, ninguém quer que se controle preço", adianta-se o coordenador do Comus, José Cândido Senna, para quem, nesse sentido, o setor marítimo tem muito a aprender com o aéreo.
Historicamente, a reclamação recai sobre a suposta lentidão dos órgãos federais em liberar a carga e em uma hipotética tendência do terminal em represá-la, já que a armazenagem é um dos itens mais rentáveis da operação portuária. Mas o próprio importador muitas vezes demora em retirar o contêiner do terminal. Entre os principais problemas relatados estão a dificuldade de cumprir etapas do processo, erros no preenchimento de documentos que demandam retrabalho, a transformação do terminal em regulador de estoque da indústria e, no limite, o abandono de carga.
A base de novos importadores cresceu 27% de 2008 para 2012, passando de 20,2 mil para 25,7 mil. "Será que eles estão por dentro do processo de importação? Talvez não porque, no afã de fazer negócios, podem estar fazendo de forma atabalhoada. Então toda a cadeia tem parcela de responsabilidade", admite Senna. Com os arrendamentos de áreas públicas para operação privada, após a lei de 1993, o custo de movimentação de carga geral caiu no porto de Santos. Em um dos terminais, o preço para embarcar ou desembarcar um contêiner caiu cerca de 60%, em valores corrigidos, de 1995 para 2011. Já a produtividade - contêiner movimentado por hora - aumentou 400% em igual período.
De outro lado, as medidas como o Porto 24 Horas ainda não surtiram efeito. Os órgãos que participam do processo de liberação de cargas sempre trabalharam em esquema de plantão fora do horário comercial no porto de Santos, mas o efetivo, que já era considerado insuficiente, não foi ampliado. "Não se faz milagre com a mesma estrutura que antes trabalhava 8 horas por dia e agora passa a trabalhar 24 horas", diz o presidente do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar), José Roque. Como o efetivo nos plantões é menor que no horário comercial, as agências de navegação que atuam em Santos só recorrem aos horários alternativos em casos excepcionais.
Valor entrou em contato com os três principais órgãos que participam da liberação de navios e cargas em Santos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que atua com 16 servidores no porto de Santos, informou que até o momento não houve necessidade de ampliar o contingente.
O Serviço de Vigilância Agropecuária (SVA), do Ministério da Agricultura, conta com 48 servidores entre fiscais, técnicos e agentes, também não teve acréscimo no quadro de pessoal após a entrada do Porto 24 Horas. Mas um concurso para fiscais e técnicos de nível médio já foi autorizado e deverá ocorrer no segundo semestre. Serão destinados mais seis fiscais federais agropecuários e 12 agentes de inspeção para integrar a equipe do SVA em Santos. A Receita Federal não retornou as ligações da reportagem. (FP)

Fonte: Jornal Valor Econômico