5 de novembro de 2012

Cabe a Dilma manter benefício à exportação

Irá à mesa da presidente Dilma Rousseff, para veredito final, a discussão sobre o futuro do Reintegra, o programa de incentivo aos exportadores criado no ano passado, que garante às empresas devolução em dinheiro ou compensação, no imposto a pagar, equivalente a 3% do faturamento nas operações de exportação.

O programa acaba no fim de dezembro, deve envolver renúncia de impostos da ordem de US$ 1 bilhão neste ano e sua prorrogação é a grande prioridade da indústria em sua lista de pedidos de Natal depositada no Palácio do Planalto. O governo não chegou, porém, a um consenso sobre o tema, que, segundo graduados integrantes da equipe econômica, será arbitrado por Dilma.

Semelhante a programas existentes pelo mundo, o Reintegra se destina a compensar os exportadores pelos impostos cobrados e não descontados nas etapas de produção. Mas defensores do Reintegra encontram ambiente inóspito para sua causa no Ministério da Fazenda, onde o espaço para bondades com dinheiro do Tesouro anda cada vez mais limitado. No Ministério do Desenvolvimento, e, especialmente, no gabinete do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, a disposição é outra, favorável à prorrogação.

Desvalorização do real é argumento contra o Reintegra

Pelo fim do Reintegra, é levantado o argumento de que outras medidas adotadas desde a criação do benefício já garantiram aos exportadores os ganhos de competitividade que justificaram a criação do programa. Em agosto, quando foi lançada a medida provisória que criou o regime para compensar exportadores, o dólar estava a R$ 1,57 e, desde então, valorizou-se em 28%, devido à intervenção governamental no mercado de câmbio.

Nesse período, o lançamento de outros benefícios - como o financiamento de máquinas e equipamentos a juros de 2,5% ao ano, pelo Programa de Sustentação de Investimentos (PSI) - garantiu taxas negativas, um subsídio oficial ao investimento em bens de capital.

Circulam no governo pesquisas feitas entre empresas sobre o uso do Reintegra e o interesse despertado nas empresas pelo programa, que os técnicos da Fazenda, interpretaram contra os desejos dos defensores da compensação aos exportadores. Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada em agosto, apontava que menos de 9%, entre 784 empresas pesquisadas, consideravam a desoneração das exportações como muito importante para a própria competitividade.

Outra pesquisa - da Fiesp, sobre o Reintegra e a desoneração da folha de pagamentos - recebeu retorno de apenas 35 empresas e nem todas usuárias do programa, e, dentre elas, menos de 23 consideraram o Reintegra muito relevante para a competitividade. Mais de um terço delas o consideraram "pouco relevante" na formação de preços para exportação.

Não é dessa forma negativa, claro, que os empresários leem as pesquisas, que mostram forte interesse pela desoneração das exportações principalmente entre grandes empresas, de grande volume de vendas ao exterior.

Os pontos identificados pela equipe economica como reveladores de pouco interesse no Reintegra são explicados pelos dirigentes empresariais como resultado das falhas do programa, que teve sua regulamentação atrasada e padece de um pecado original: sua curta duração.

"Ouvimos de empresários: 'Para que internalizar o Reintegra na formação de preços de exportação, se vai durar tão pouco, apenas alguns meses?'", relatou, ao Valor, o diretor do departamento de relações internacionais e comércio exterior da Fiesp, Roberto Giannetti, um dos maiores defensores da extensão do programa. "Se fosse duradouro, por período indeterminado, certamente a percepção empresarial seria outra", argumentou Giannetti.

De fato, o Reintegra, criado por medida provisória em agosto do ano passado, só foi regulamentado em dezembro, e só no segundo trimestre de 2012 começou, de fato a operar. Em setembro, a Receita Federal admitia não haver pago, ainda, 31% dos pedidos de compensação.

Em um indício do interesse empresarial, a extensão do Reintegra para além de dezembro foi um dos principais temas escolhidos pelos dirigentes empresariais em duas reuniões com o governo às vésperas do feriado: os encontros do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, no Palácio do Planalto, e do Grupo de Avanço da Competitividade (GAC), no Ministério da Fazenda. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) aproveitou a viagem e deixou no gabinete de Dilma um documento, subscrito por 20 associações empresariais, reivindicando a manutenção do Reintegra.

Os empresários argumentam que, além de admitido pelas regras internacionais de comércio, o Reintegra é uma questão de justiça. Serviria para equilibrar as condições de competição com produtores de outros países, que não pagam os impostos residuais cobrados nas etapas produtivas realizadas no Brasil. As empresas que se interessam pelo tema garantem que o resíduo tributário não descontado dos exportadores é até maior que os 3% calculados pela equipe econômica.

Os adversários do Reintegra no governo têm defendido nas reuniões internas que é melhor dar prioridade à reforma tributária, para reduzir a complexidade dos impostos e eliminar por esse caminho a carga tributária indevida sobre as exportações.

É um bom argumento. Mas, considerando que essa reforma não parece ser tarefa que se conclua em prazo curto, os amigos do Reintegra têm, ainda, um forte argumento para cobrar a continuidade do instrumento de apoio aos exportadores, anunciado com fanfarras pelo governo Dilma no ano passado.


Fonte: Jornal Valor Econômico

Brasil vê risco de piora na economia global

O governo brasileiro considera excessivamente frágeis os últimos sinais de recuperação da economia mundial e vê ameaças concretas de uma nova onda de deterioração. É um diagnóstico feito a partir de conversas na reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), que ocorreu no início de outubro, em Tóquio, e na do G-20, iniciada neste fim de semana, na Cidade do México.

Ninguém deu muita bola, na equipe econômica, para a expansão de 2% do PIB americano, no terceiro trimestre, a taxas anualizadas. Nem para o crescimento de 1% do Reino Unido, no mesmo período, saindo de três trimestres seguidos de contração. O futuro da China, cujo nível de atividade começa a se estabilizar após sete trimestres consecutivos de desaceleração, também não entusiasma, nem preocupa, as autoridades brasileiras. A aposta é que a meta de 7,5% de expansão será alcançada, sem dificuldades, decepcionando apenas aqueles que se acostumaram a ver sempre crescimento de dois dígitos, mas sem provocar solavancos nos preços das commodities.

O que começa a concorrer com a crise da dívida europeia, no topo das preocupações dos formuladores de Brasília, é a perspectiva de um "abismo fiscal" nos Estados Unidos. Se o Congresso americano não prorrogar uma série de leis que expiram à meia-noite do dia 31 de dezembro de 2012, haverá aumento de impostos e corte de gastos, levando o déficit fiscal a cair pela metade, em 2013. A contrapartida é um provável retorno à recessão.

No fim de semana, a delegação dos Estados Unidos demonstrou impotência para lidar com esse assunto, enquanto as eleições não estiverem definidas. "A própria administração americana relatou estar consciente de que tem um problema, mas não pôde dizer nada além disso, por enquanto. Só quando o embate legislativo começar é que será possível ver as posições que o Partido Democrata e o Partido Republicano vão tomar. Até as eleições, a discussão está congelada", disse uma fonte do governo brasileiro.

Os negociadores do G-20 discutiam a inclusão, no comunicado de hoje sobre o encontro de ministros da Economia e presidentes dos bancos centrais, um apelo para que os Estados Unidos evitem o abismo fiscal. A dúvida é o tom a ser usado. O secretário-geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), Ángel Gurría, afirmou que está "otimista" com uma solução pelo Congresso americano. "Eu ainda acho que (o abismo fiscal) não será aplicado", comentou Gurría.

A crise europeia também esteve no centro dos debates. O G-20 não chegou a analisar detidamente a situação da Grécia, mais a cargo da "troica" (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), que discute se libera uma parcela de € $ 31,5 bilhões ao país.

A questão europeia foi avaliada principalmente no âmbito da eficácia dos planos - traçados na cúpula do G-20, em Toronto, há dois anos - de redução de dívida dos países. Nesse ponto, a visão brasileira é de que houve avanços, em termos de ajustes fiscais e de afrouxamento das políticas monetárias. Nada, porém, que tenha levado a uma retomada consistente. Por isso, a própria essência do plano está sendo colocada em xeque. "Não basta olhar se os países cumpriram seus compromissos. É preciso ver se o plano, como um todo, está funcionando. É um problema de implementação ou de desenho dos compromissos?", questionou uma autoridade brasileira.

Nos bastidores do G-20, há pressão sobre os alemães, que continuam reticentes a qualquer relaxamento fiscal para estimular a economia. Sem citar diretamente a Alemanha, o ministro das Finanças do México, José Antonio Meade, deu um recado nesse sentido: "Cada país tem que encontrar a melhor política, com base em suas próprias limitações, sua própria realidade. Mas essa política pública tem que ser coordenada para que os países que têm espaço para continuar promovendo a demanda o façam, e os países que têm que fazer ajustes também o façam".

Para a delegação brasileira, os alemães não querem "sequer dar a impressão de que estão vacilando no ajuste fiscal da Europa", a fim de evitar quebra de expectativas pelo mercado financeiro.

Quanto à última rodada de afrouxamento monetário - o QE3 - pelo Federal Reserve, a avaliação da equipe econômica é que seus efeitos ainda não respingaram no Brasil, seja por falta de tempo ou por três fatores de "amortecimento": o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre várias transações, o ritmo ainda lento da economia brasileira e o diferencial menor de juros com as taxas internacionais.

Mesmo nos Estados Unidos, segundo a leitura brasileira, não está claro se o QE3 resultou em quedas de custos para as hipotecas ou se os bancos estão embolsando mais dinheiro. O fato é que a própria leitura americana da conjuntura nos Estados Unidos não animou ninguém. "A própria avaliação que temos visto do Fed não é tão otimista. Nas últimas reuniões que tivemos, o Fed ressaltou notas de cautela em relação à retomada americana", concluiu um funcionário brasileiro.

 
Fonte: Jornal Valor Econômico

1 de novembro de 2012

Camex reduz imposto de importação de 330 máquinas e equipamentos

A Câmara de Comércio Exterior (Camex), presidida pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, diminuiu o Imposto de Importação de 330 máquinas e equipamentos de informática e telecomunicações que não são produzidos no Brasil. A redução do imposto – para 2% – valerá até 30 de junho de 2014.

A medida foi publicada nesta quarta-feira no “Diário Oficial da União” por meio de duas resoluções. Entre os beneficiados estão os setores de petróleo, mineração, automotivo, ferroviário e de autopeças.

Segundo comunicado do ministério, o objetivo é reduzir os custos dos investimentos na indústria. As resoluções foram aprovadas pelo Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Camex, dentro do regime de ex-tarifário. Mais de 80% dos ex-tarifários autorizados referem-se a novos investimentos. O regime de ex-tarifário permite a redução temporária do imposto de importação para bens de capital, de informática e telecomunicação sem similar nacional.

A Resolução Camex nº 74 traz a relação de 322 ex-tarifários simples para bens de capital, com redução de alíquotas de 14% para 2% – 45 pedidos de renovação e 277 novos pedidos de concessão. Já a Resolução Camex nº 75, referente a bens de informática e telecomunicações, concede redução de imposto de 16% para 2% para impressoras de grande formato e renovação da redução tarifária de 16% para 0% para sete equipamentos relacionados a investimentos em tecnologia de TV digital.

Com essas duas novas resoluções da Camex o número total de ex-tarifários aprovados em 2012 chega a 2.134. Segundo o ministério, os benefícios fiscais que passam a vigorar a partir desta quarta-feira incentivarão investimentos globais de mais de US$ 7,021 bilhões e investimentos em importações de aproximadamente US$ 340 milhões.

Projetos beneficiados

Entre os grandes projetos que serão incentivados com a redução tarifária destacam-se a implantação de uma fábrica para produção de 200 mil veículos por ano, em Resende (RJ); a construção de uma unidade para produção de mais de 20 mil toneladas de pneus por ano, no Rio de Janeiro; a construção de uma fábrica de fertilizantes em Três Lagoas (MS); e a expansão da linha verde do metrô de São Paulo.

Em relação aos países de origem das importações beneficiadas com os novos ex-tarifários, destacam-se Estados Unidos (44,80%), Alemanha (10,19%) e Itália (7,62%). Os principais setores contemplados, em relação aos investimentos globais, foram o de petróleo (31,37%), o automotivo (19,96%), o de autopeças (11,47%), o ferroviário (8,91%), e o setor de mineração (8,62%).


Fonte: Jornal Valor Econômico

EUA tentam voltar à normalidade após furacão

A cidade de Nova York vai lentamente retomando suas atividades. Ontem, já houve algumas decolagens e pousos nos aeroportos John Kennedy e Newark - hoje, o La Guardia também reabre. O pregão físico da Bolsa de Nova York (Nyse) também voltou a funcionar, após dois dias parado. O serviço de trens foi parcialmente restabelecido. Algumas linhas do metrô voltam a operar hoje. O prefeito Michael Bloomberg confirmou que a tradicional Maratona de Nova York, marcada para domingo, não será adiada. Empresas especializadas em análises de catástrofes estimam prejuízos de mais de US$ 45 bilhões em todas as cidades americanas atingidas. O presidente Barack Obama viajou a Nova Jersey, um dos Estados mais atingidos, e sobrevoou áreas devastadas. "Estamos aqui por vocês e não esqueceremos. Vamos ficar acompanhando para garantir que tenham toda a ajuda necessária para a reconstrução", disse Obama. Na foto, casas destruídas em Seaside Heights (Nova Jersey).




Fonte: Jornal Valor Econômico

Tarifa de importação é a maior em nove anos



Após redução, ano a ano, desde 2002, a média de tarifas de importação aplicadas no Brasil voltou a crescer desde a crise financeira iniciada em 2007, e chegou, em 2011, ao maior patamar dos últimos nove anos, segundo levantamento do Ministério do Desenvolvimento, a pedido do Valor. A tarifa é um dos principais indicadores de protecionismo, política que, para boa parte dos analistas, aumentou no Brasil após a crise. O tema é polêmico, porém, e, segundo integrantes do governo e analistas independentes, as medidas do Brasil nem sequer compensam o desequilíbrio nos mercados com a desvalorização de moedas como o dólar, o yuan e o euro.

Dados da Organização Mundial de Comércio (OMC), com as tarifas médias de importação ponderadas pelo volume de comércio de cada produto, mostram que a elevação do custo das importações começou até antes da crise: o Brasil passou de uma tarifa média ponderada de 8,48% em 2004 para 8,7% em 2005; e saltou de uma tarifa média de 9% em 2007 e 9,05% em 2008 para a média de 10,26% em 2009, até chegar a 10,61% no ano passado. Em todos os cálculos, a tarifa média está, hoje, pouco acima do patamar em que estava em 2002. 

 
Um dos raros estudos comparativos internacionais, realizado pela independente Global Trade Alert (GTA), para orientar as discussões do G-20, o grupo das maiores economias mundiais, aponta o Brasil entre os maiores usuários de medidas de proteção à indústria. Só oito países do globo, desde 2008, teriam editado mais medidas capazes de prejudicar importações em favor da indústria nacional, diz o GTA.

A contabilidade do GTA inclui, porém, medidas que não podem ser consideradas claramente protecionistas, como as ações de defesa comercial, que, embora imponham restrições e sobretaxas a produtos importados são dirigidas contra produtos beneficiados por subsídios ou preços artificiais, em desacordo com as regras da OMC. Nem sempre o uso de medidas antidumping (contra preços abaixo do normal nas importações) é guiado por critérios puramente técnicos, mas a seriedade da atuação do Brasil é reconhecida internacionalmente, como mostra a ausência de contestação às medidas brasileiras na OMC.

Das 443 petições de medidas de defesa comercial feitas pelo setor privado desde 2005 até o primeiro semestre deste ano, 191 levaram a investigações e 193 foram indeferidas ou retiradas pelos peticionários (outras 56 estavam em análise). O cuidado dos técnicos levou a repetidas queixas do setor privado contra a lentidão do governo, até que, em 2011, com o Plano Brasil Maior, o governo mudou regras para agilizar e encurtar prazos desses mecanismos (o que incluiu exigência de mais dados e justificativas nas petições dos empresários contra importações).

Dos 430 processos de investigação abertos de 2005 até junho de 2012, 145 terminaram sem aplicação de medida contra importações. No ano de 2011, o primeiro do mandato de Dilma, houve o maior número de medidas impostas definitiva ou provisoriamente dos últimos 25 anos: 28 casos de sobretaxas a importados. Nesse ano, foram rejeitadas 14 petições, o segundo maior número de rejeições desde 1988.

Embora a metodologia do GTA seja contestada por muitos especialistas por reunir medidas de alcance e efeitos diversos em uma mesma estatística, o autor dos estudos, Simon Evenett, defende seu cálculo por registrar medidas contra importações com potencial discriminatório, quantidade de produtos e países afetados e de setores nacionais beneficiados. Das 233 regiões monitoradas, 192 têm desempenho melhor que o Brasil em todos esses pontos, calcula Evenett. Dados do GTA foram usados pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em viagem a Londres, em setembro, para mostrar que, no saldo entre medidas protecionistas e medidas liberalizantes, o Brasil está atrás de 11 países, entre eles China, Índia, Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra.

"O Brasil pecou, muitos países pecaram bem menos, uns poucos pecaram mais", reagiu Evenett, ao comentar, em nota, as declarações de Mantega.

O governo argumenta que, nos últimos anos, tem reduzido em grande quantidade tarifas de importações que vieram ao Brasil em grande volume, como os equipamentos para novas fábricas de montadoras de automóveis, entre elas a Nissan, beneficiados pelo mecanismo de ex-tarifário, que diminui temporariamente o imposto sobre importados. Entre 2008 e 2011, anos de crise internacional, o Brasil autorizou redução em 2.986 itens, 2,5 mil só em 2011. Em 2012, a lista já soma 2,1 mil.

"Após a crise de 2008, os países desenvolvidos saíram na frente em medidas protecionistas, com aumento de tarifas e defesa comercial, mas o Brasil logo acompanhou", diz o economista Ivan Tiago Machado Oliveira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que não hesita em afirmar que o país ficou mais protecionista. "O problema maior é que os setores beneficiados por medidas são os mesmos que recebem proteção desde a década de 70", aponta.

Em um ponto analistas privados concordam: nos últimos dois anos, o governo federal passou a defender mais abertamente a proteção à indústria nacional, a ponto de adotar medidas que contrariam as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Está nessa categoria o aumento do IPI decretado no ano passado para automóveis sem percentual mínimo de conteúdo nacional. Diferenciar, na tributação interna, entre produtos importados ou produzidos localmente é discriminação inaceitável para a OMC.

O anúncio recente de aumento de tarifas de importação para 200 produtos, embora dentro dos limites definidos na OMC é condenado pelos que veem um aumento do protecionismo no Brasil. "Há aumento de tarifa para produtos intermediários, que afeta o custo de produção no Brasil e reduz a competitividade", critica a economista Sandra Rios, do Centro de Estudos de Integração e desenvolvimento (Cindes). "É uma política que parece mais voltada para atender à pressão de grupos específicos", diz ela. "Não se mostra caminho de saída e a proteção tende a se perpetuar."

A adoção de exigências de conteúdo nacional, embora promovida por vários governos, também sujeita o país a contestação na OMC. Em Genebra, diplomatas acompanham com interesse o caso aberto por Japão e União Europeia contra exigências de conteúdo local no programa de incentivo a energia renovável da a província canadense de Ontário. Há indicações de que os árbitros da OMC considerarão ilegais as exigências canadenses.

 
Fonte: Jornal Valor Econômico

OMC reconhece que Brasil lançou medidas para facilitar comércio

A Organização Mundial de Comércio (OMC) reconhece mais explicitamente que o Brasil adotou várias medidas de facilitação de comércio nos últimos meses, e não apenas de restrições à importação ou de defesa comercial, contrariando a percepção comum. A entidade mostra que, de 26 medidas comerciais adotadas pelo país entre metade de maio e outubro, 12 foram de redução temporária de tarifas de importação para 2% sobre dezenas de produtos de informática e telecomunicações, além de sardinhas, coco e outros.

De outro lado, apenas uma medida foi para aumentar tarifas, de 25% sobre cem linhas tarifárias, atingindo produtos importantes e que causou uma reação generalizada dos parceiros.

Em seu monitoramento periódico sobre o comércio mundial, a OMC destaca que o Brasil reduziu tarifas de importação de 2.135 produtos de bens de capital e equipamentos de informática e telecomunicações desde o começo do ano. Ontem, a Câmara de Comércio Exterior (Camex), diminuiu o Imposto de Importação de 330 máquinas e equipamentos de informática e telecomunicações que não são produzidos no Brasil.

"O relatório da OMC é alentador, porque mostra que, ao contrário da percepção geral, o cenário é de redução de medidas protecionistas no mundo e no Brasil", reagiu o embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo. "Isso é ainda mais importante porque continuamos num cenário econômico internacional de grande incerteza."

Alguns dados da OMC causam confusão, como os sobre a defesa comercial. Nos últimos cinco meses, a entidade mostra que o Brasil abriu sete novas investigações antidumping, atingindo 27 países. Num dos quadros que publica, a entidade aponta, porém,que o país abriu 27 investigações novas, para em outro, limitá-los aos sete originais.

Além disso, o Brasil encerrou sete investigações antidumping sem adotar nenhuma sobretaxa adicional sobre as importações examinadas nos últimos cinco meses - ou seja, sem estabelecer barreira adicional para proteger sua indústria.

A OMC toma cuidado em não considerar que defesa comercial é restrição as trocas, ou seja, protecionismo. Afinal, trata-se de mecanismo autorizado pelas regras comerciais. O que pode haver é abuso em sua adoção por parte de certos países, mas não diz isso.

Certo é que a percepção no exterior é de que o Brasil se tornou mais protecionista, procurando defender sua indústria no cenário de real valorizado e de concorrência ainda mais acirrada com a desaceleração econômica global.

Globalmente, desta vez as medidas que facilitam comércio bateram as que supostamente restringem as trocas. Cerca de 55% das novas medidas nos últimos cinco meses podem ajudar as exportações e importações, em comparação a 45% no relatório de monitoramento anterior, e cobrindo 0,7% das importações de mercadorias dos países do G-20.

As medidas restritivas chegaram a 71 entre maio e outubro, mas a OMC não detalha a origem por país, para não alimentar "clima de acusações" entre os parceiros. O fato é que imediatamente depois, nos comitês específicos da entidade, os países que se sentem afetados apresentam suas reclamações, como forma de pressão inicial.

A OMC projeta expansão do comércio global de apenas 2,5% em volume neste ano, mas alta para 4,5% no ano que vem, ainda abaixo dos mais de 5% na média dos anos antes da crise.


Fonte: Jornal Valor Econômico

Governo está empenhando em manter dólar no nível de R$ 2, diz ministro

“O governo brasileiro está empenhado em manter, pelo menos, o atual patamar do câmbio, de R$ 2 por dólar”, afirmou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, admitindo implicitamente um piso para a cotação do dólar no sistema de “flutuação suja” adotado pelo Banco Central. “Quem pode responder com precisão a essa questão é o presidente [do Banco Central, Alexandre] Tombini, e o ministro [da Fazenda, Guido] Mantega”, comentou Pimentel, ao lhe indagarem sobre câmbio. “Mas como eles disseram várias vezes em público, posso repetir.”

As declarações de Pimentel reproduziram o que os integrantes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) ouviram do próprio Mantega que garantiu a intervenção do governo para impedir que o dólar caia abaixo de R$ 2. Segundo participantes da reunião ouvidos pelo Valor, no Palácio do Planalto, ficou clara para todos a existência do piso de R$ 2 para o dólar.

Pimentel negou que, como lhe perguntou um repórter, o câmbio funcionaria como ”instrumento de ajuste” da economia. “O que estamos fazendo desde maio ano passado é uma política cambial que analistas estão chamando de flutuação suja”, comentou, dizendo que o objetivo oficial é “manter o patamar cambio brasileiro num estágio competitivo”.

“Hoje com dólar a R$2 temos cambio que dá certo conforto ao exportador”, comentou o ministro. “Certamente é um patamar muito mais confortável que no inicio do ano passado, quando cambio chegou a R$ 1,50 e R$ 1,60. “O BC atua sobre o câmbio usando o mercado; vamos tentar manter sempre que houver ataques à nossa moeda”.

Mantega frustrou os empresários que esperavam convencê-lo a prorrogar o Reintegra, programa que garante a devolução de 3% do faturamento a empresas exportadoras, para compensar tributos pagos nas etapas da cadeia produtiva. “Medidas para o ano vem vamos anunciar no ano que vem”, gracejou Pimentel, ao lhe perguntarem o que planejava o governo para 2013.

“O que é permanente na política industrial, é o maior foco em inovação, o adensamento das cadeias produtivas brasileiras e defesa comercial legítima do mercado brasileiro de pratícas predatórias”, disse. “Para atingir metas quantitativas e configurar os focos vamos adotando medidas ao longo do tempo”.


Fonte: Jornal Valor Econômico